sexta-feira, 24 de abril de 2009

Antepenúltimo passo


(...)
Cruzamos pastos, bosques e riachos pela serra da
Mantiqueira, até chegarmos de noite na cidade de Santo Antônio
do Pinhal. Naquela cidade serrana cercada por araucárias, Adão
apertou a campainha da pousada Nippon. “Quer falar com
alguém?”, um japonesinho atendeu. Adão olhou para a criança
e respondeu com humor: “Ué? Não sei. Estou só apertando a
campainha pra ver se ninguém me atende”. A criança foi chamar
o pai. Olhando para aquele menininho ingênuo, lembrei-me de
mim mesmo.
Paternalmente, mais uma vez Adão se propôs a pagar um
quarto para mim, mas eu já havia conseguido um canto no amplo
salão de festas da pousada. Mesas e cadeiras brancas esperavam
para serem usadas em um canto do salão. A voz de Adão ecoou
pelo vazio. Ele me convidava para jantar e não aceitaria um
não como resposta, porque naquela noite teríamos comida
japonesa. “Se não vier comigo, quem vai me dizer o que eu
estou comendo?”, ele brincou.
No restaurante da pousada Nippon, pequenos arranjos
florais de ikebana descansavam sobre as mesas. Quadros
exibiam imagens da Terra do Sol Nascente. No cardápio havia
yakisoba, tempurá, yakimeshi... Lembrei-me da saborosa
comida da minha mãe. Uma música enka começou a tocar. Era
uma antiga canção japonesa que falava sobre saudades da terra
natal. E aquela era a mesma música que eu escutava com o meu
pai quando eu era criança. Ele sempre a tocava durante as
viagens de carro, em que eu me deitava no banco de trás e
olhava as estrelas passando pela janela. Eu reclamava: “Pai, eu
não gosto dessa música”. E ele respondia: “Quando crescer vai
aprender a ter saudades. Daí vai gostar dessa música”. E naquele
restaurante, naquela noite, eu gostei.
(...)

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