sexta-feira, 24 de abril de 2009

12º Passo


(...)
Nas ruas de Barretos, conheci uma legião invisível de
pessoas que vagam às margens da visibilidade social. Havia
em meio a este povo sem face, pessoas que não se deixavam
desaparecer por completo. Eram os vendedores de coisas que
ninguém queria. Todos depositavam uma esperança exagerada
na festa de Barretos, que fatalmente acabava em decepção. Um
desses vendedores carregava vários chapéus de caubói feitos
de lona de caminhão. O maranhense acabou batendo papo com
ele e acabou descolando um chapéu estragado para mim. E,
assim, com um chapéu de lona remendado na cabeça, eu entrei
oficialmente para a horda de caubóis sem cavalo. Caubóis sem
nada além do duro chão em que pisam e são pisados.
Já na minha primeira noite em Barretos, fui até a arena do
rodeio. Era terça-feira e a entrada era gratuita naquele dia. A
grande festa mesmo acontecia nos finais de semana, quando
os ricos fazendeiros iam acompanhados de suas belas mulheres
para ver os campeões. A arquibancada ficava quase vazia nos
outros dias, porque ninguém queria ver as eliminatórias.
Ninguém quer ver nem de graça os eliminados, os perdedores.
Todos pagam para ver a grande final, quando apenas os
vencedores ficam de pé no centro da grande arena. Este é o
mundo que aclama os vencedores e despreza os perdedores.
Naquela noite eu estava entre os perdedores, vendo os
touros pulando na arena, jogando os caubóis no chão. O locutor
berrava: “O CHÃO É O LIMITE”. E foram muitos os que
chegaram ao limite naquela noite, tanto na arena quanto fora
dela. Catadores de latinhas garimpavam os restos dos que
podiam festejar. Vi dois deles brigando por uma mísera latinha
jogada na arquibancada. Eles haviam chegado ao limite. Os
touros pararam de pular na arena, o locutor parou de berrar, as
latinhas vazias sumiram das arquibancadas, que de quase vazias
se esvaziaram por completo. Fiquei por alguns minutos naquela
arena de 35 mil assentos calados. Não havia aplausos para os
perdedores.
(...)

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