sexta-feira, 24 de abril de 2009

7º Passo


(...)
Um soldado apontou o fuzil para a estrada e ordenou que
parássemos. Depois de verificar que não éramos inimigos, ele
nos deixou passar. Finalmente chegamos ao imponente Forte
Real Príncipe da Beira. Conversamos com o comandante do
quartel e ele permitiu que entrássemos na antiga fortaleza. Um
soldado pegou uma pesada chave de ferro e nos acompanhou.
Seu fuzil pendia no ombro como uma extensão de seu próprio
braço. Deixando o quartel do presente, a chave girou e abriu o
portão do passado. Ao penetrarmos pelo portal de pedra, duas
enormes corujas brancas piaram, como se estivessem
lamentando algo muito ruim. As maciças muralhas de dez
metros de altura intimidavam o medo. Aquela fortaleza tinha a
forma de uma estrela de quatro pontas. Uma estrela cravejada
no coração da selva.
O coturno do soldado golpeava o chão de pedra, fazendo
ecoar os passos do passado. Ele abriu um alçapão no centro da
fortaleza, afirmando que ninguém sabia para onde ele levava.
O poço desaparecia na escuridão. Para onde levaria? Ninguém
ousou descobrir. Seu segredo estava velado pelos antigos
fantasmas que a escavaram no coração do forte. Marchamos
até o baluarte que se projetava em direção ao rio Guaporé. Olhei
para os silenciosos canhões enferrujados que apontavam para
a Bolívia. O transporte daquelas armas desde o Velho Mundo
até aquele distante canto do Brasil demorou cinco anos,
cruzando o oceano Atlântico e subindo penosamente os rios
Amazonas e Madeira. Olhei as poderosas muralhas de pedra.
Toda aquela fortaleza havia sido construída pelo medo de que
um dia os inimigos viessem a atacar. Mas aquelas pedras
permaneceram em silêncio, esperando por séculos. Nada.
Aqueles canhões apontavam para um inimigo que nunca veio.
Para que o esforço da construção não fosse em vão, a
orgulhosa fortaleza foi convertida em vergonhosa prisão. As
grossas muralhas que haviam sido projetadas para proteger se
transformaram em muros para prender e torturar a liberdade.
Quão parecido com aquela fortaleza é o homem: temendo
inimigos inexistentes, construindo muralhas para se defender
e acabando prisioneiro de seu próprio medo. No fim, a velha
fortaleza sucumbiu. Não é mais forte. Não é mais prisão. É
apenas uma testemunha silenciosa, de algo sem explicação.
(...)

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