sexta-feira, 24 de abril de 2009

11º Passo


(...)
Do outro lado do rio ficava o Mato Grosso do Sul. Fiquei
com vontade de ir até lá, mas do outro lado não havia mais
estrada. O chão acabou para mim. Era hora de voltar. Girei o
guidão e recomecei a pedalar. A placa indicava: “Poconé – 149
km”. E foi uma longa viagem de volta...
Não fiquei muito tempo no Pantanal. Por mais belo que
aquele lugar fosse, por mais emoções que tenha vivido entre
os jacarés, por mais que tenha enfeitado a minha alma com
revoadas de penas e bicos de todas as cores, eu sentia vontade
de voltar para casa. Peguei carona na caçamba de um velho
caminhão e vi o sol se pôr na estrada. E quando me dei conta,
já estava de volta. De volta à Chapada dos Guimarães. Por que
me sentia em casa naquele lugar?
Dividi as paisagens do Pantanal com os meus amigos da
Chapada. Camila e seu filho Isac ainda brincavam por lá,
enquanto César e Clara vendiam seus badulaques ao lado do
riacho, que havia sido testemunha de um ato heróico naquele
dia. Um homem havia tombado com a cadeira de rodas dentro
da água, e Clara ajudou a salvá-lo. Apesar do riacho ser raso, a
cabeça dele havia ficado debaixo d’água. Foi Clara quem puxou
o seu rosto para fora, até que outras pessoas chegassem para
ajudar a carregá-lo para fora de perigo. Clara ficou encabulada
com os agradecimentos fervorosos do homem que salvara.
Quando cheguei, ele já estava sentado em sua cadeira de
rodas, todo molhado e sorridente ao lado de sua heroína. Ele
realmente era um homem grato por estar vivo, porque mesmo
estando em uma cadeira de rodas, ele nunca deixou de procurar
novos horizontes. Nem ele, nem os seus companheiros daquela
excursão em cadeira de rodas, incluindo um homem que só
conseguia mexer os olhos. Mas tal era a expressão de seu olhar,
que ele conseguia sorrir sem mover os lábios.
Havia um outro rapaz que não precisava de cadeira de rodas,
mas que acompanhava o grupo. “As pessoas pensam que eu
estou com a minha mulher por pena”. Ela teve as pernas
amputadas em um acidente de carro em que ele estava ao
volante. “E eu cheguei a pensar que era por culpa”, ele baixou
os olhos. Sua esposa chegou sorridente com uma garrafa de
refrigerante e copos de plástico no colo. Ele beijou a fronte da
mulher e concluiu: “Mas depois de alguns anos, eu descobri
que era pelo mesmo motivo de sempre... Por amor”.
(...)

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