tag:blogger.com,1999:blog-11492226268884315142024-03-13T17:52:42.032-03:00Além do HorizonteAndréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.comBlogger35125tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-60274137342315840652009-04-24T19:59:00.001-03:002009-04-30T16:57:36.764-03:00Sinopse<span style="color: rgb(255, 255, 255);font-size:130%;" >"Há momentos na vida em que desejamos simplesmente que tudo acabe.<br />Momentos em que desejamos apagar o passado, ignorar o presente e abandonar o futuro. Mas tomar uma estrada sem volta talvez não leve a lugar nenhum.<br />A única saída é deixar tudo para trás e viajar sem destino, sem dinheiro, sem nada. Porque uma viagem sem destino é um suicídio sem morte, é uma fuga em que o perseguidor é o próprio fugitivo, é se perder para se encontrar, é alcançar o horizonte sem saber que é impossível, e é a única chance de alguém que quer morrer... viver de verdade"</span><br /><br /><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfC3G3spHaI/AAAAAAAAADg/IvrSnG7q1rY/s1600-h/Al%C3%A9m+do+Horizonte+-++capa+frontal.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 210px; height: 320px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfC3G3spHaI/AAAAAAAAADg/IvrSnG7q1rY/s320/Al%C3%A9m+do+Horizonte+-++capa+frontal.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5327959687837588898" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);font-size:130%;" >O livro narra a história real de alguém que tentou fugir da realidade. Mas para onde se pode fugir quando o que o persegue está cravado em seu peito? Até onde se pode chegar quando o dinheiro acaba e tudo o que resta é a roupa do corpo e uma surrada mochila, que carrega o peso de uma desilusão amorosa, o desprezo de um pai e a culpa pela morte do melhor amigo?<br />O autor tentou fugir escalando o selvagem Monte Roraima, navegando para uma paradisíaca ilha do Caribe, cruzando a selva amazônica, seguindo os trilhos da morte da Madeira - Mamoré, buscando proteção nas muralhas de uma fortaleza perdida nos confins do Brasil, pegando carona nas estradas mais remotas, pedalando uma velha bicicleta pelo Pantanal, caminhando 400 quilômetros pelas tortuosas vias do Caminho da Fé, tentando se perder na multidão da festa dos bois de Parintins e dos touros do rodeio de Barretos, se enterrando em um cemitério abandonado de uma cidade fantasma, dormindo nas ruas entre mendigos, acampando no mato entre malucos na grande Chapada dos Guimarães... e encontrando, pelo caminho, pessoas incríveis que lhe ensinaram a ter a coragem necessária para nunca mais fugir da vida. Pessoas que lhe mostraram o caminho que o levaria à paz de espírito, em algum lugar, “além do horizonte”...</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-9813094293449947662009-04-24T19:42:00.001-03:002009-04-30T16:22:00.246-03:00Prefácio<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn6TFz95aI/AAAAAAAAAJo/GdP4mwRYzSQ/s1600-h/00.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn6TFz95aI/AAAAAAAAAJo/GdP4mwRYzSQ/s320/00.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330566839854294434" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Adiante estava a última fronteira. Para trás só havia o rastro</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de um passado que desejava apagar: amores fracassados,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sonhos não realizados, culpas não perdoadas. Eu havia chegado</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a um ponto em que todas as mentiras soavam como verdades e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">em que todas as verdades já não importavam mais.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O que eu deixava para trás? Deixei minha noiva embarcar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">em um avião sem passagem de volta. Deixei as palavras de um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pai decepcionado: “Você é pior do que um mendigo, porque</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">um mendigo explora quem não conhece, enquanto você explora</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quem te ama”. Mas o pior de tudo foi ter deixado o meu melhor</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">amigo morrer...</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Naquele dia, minha vida inteira cabia dentro de uma</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">surrada mochila. Todas as minhas esperanças estavam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">depositadas dentro dela. Joguei tudo o que havia me restado</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sobre a mesa do posto de inspeção. O ganancioso guarda da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fronteira perguntou se eu levava algo de valor. Respondi que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não. Ele não acreditou, revistando-me dos pés à cabeça. Depois,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">olhando para o companheiro de farda, disparou desapontado:</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Este garoto não tem nada, pode deixar ele ir embora”. Seu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fuzil enferrujado apontava para o vazio. Quisera ele me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">executar, talvez não fizesse diferença, porque eu não tinha mais</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nada a perder. Mas ele me deixou partir.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Respirei fundo e cruzei a última fronteira, sem olhar para trás.</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-35718476876480936182009-04-24T19:36:00.003-03:002009-04-30T15:56:17.947-03:001º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn0OHqDykI/AAAAAAAAAHQ/VelJ6n0fHiU/s1600-h/01.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn0OHqDykI/AAAAAAAAAHQ/VelJ6n0fHiU/s320/01.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330560157380495938" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">No horizonte, o monte Kukenán se deitava sobre um fino</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">manto de nuvens. Uma gigantesca cachoeira despencava de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">seu cume, formando um delicado fio de lágrima em sua dura</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">face de pedra. O rio Tek serpenteava, carregando fragmentos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de rocha. Com paciência, o rio moveria a montanha para o mar.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Corri para o rio que carregava o espírito das montanhas.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Banhei-me em um ritual de purificação. Não era apenas o corpo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que eu desejava lavar, mas principalmente a alma. E talvez fosse</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">este o significado daquele batismo selvagem: o ingresso para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma nova vida, livre da roupa costurada com a agulha do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">preconceito e a linha da falsa moral.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Retornando ao acampamento, meus companheiros já</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estavam reunidos para o jantar. Ao longo da primitiva ceia,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">deixávamos pequenas migalhas de quem éramos sobre a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“mesa”. Descobri que confidências feitas em lugares distantes</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">da civilização se revelam muito mais sinceras; talvez porque</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">na natureza selvagem esquecemos as mentiras que inventamos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para viver em sociedade.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">De qualquer forma, não partilharei das confidências de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">meus colegas aqui, pois entendo que sob tais circunstâncias</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">devo tratá-las mais como confissões, que não dizem respeito</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ao resto do mundo. Porém, antes de me silenciar, devo contar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apenas um fato, por ser relevante àqueles dias. O aventureiro</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">finlandês revelou à mesa que “cagar dentro da água pura dos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rios lhe proporcionava uma sensação mística”. Quase cuspi a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">água do rio que acabara de beber. A partir daquele momento,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sempre que ia pegar água ou me banhar, eu tomava o cuidado</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de nunca permitir que ele ficasse próximo a mim dentro da água.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Durante a noite, fui atraído por uma luz que tentava varrer</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">um pedaço de escuridão. O guia e o carregador pareciam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">agitados, iluminando um ponto no chão. O facho da velha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">lanterna incidia em um buraco, atraindo gordas formigas que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">eram rapidamente apanhadas pelas mãos da dupla. “Assim que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">se faz para que a formiga não pique a sua língua”, o guia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">explicava como saboreá-las. O que importava era o abdômen</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">polpudo, o resto era jogado fora.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">As formigas mutiladas se acumulavam no chão, arrastando-se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">desorientadas. Imaginei a sociedade humana como um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">imenso formigueiro em que todos os indivíduos são atraídos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pela falsa luz do dinheiro, apenas para serem sugados e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">descartados por ele mais tarde. Como uma formiga desse insano</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">formigueiro, gostaria de pelo menos ter a oportunidade de picar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a língua da sociedade, antes de ser devorado por ela.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Talvez fosse apenas a minha vontade de fugir do mundo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que me levava a tais pensamentos. Enterrei-me na barraca com</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">as minhas ideias tristes, tentando ter sonhos melhores. Sonhos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que não vieram.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-12950739279616076402009-04-24T19:33:00.003-03:002009-04-30T15:58:23.866-03:002º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn0u2HzGrI/AAAAAAAAAHY/eDiDJK4Qzqw/s1600-h/02.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn0u2HzGrI/AAAAAAAAAHY/eDiDJK4Qzqw/s320/02.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330560719609076402" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Sentado no alto de um rochedo, eu contemplava um país</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">misterioso. Na língua indígena, Guiana significa “terra das</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">águas”, uma terra úmida que regava uma selva sem fim.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Enfeitiçado pelo chamado da floresta, caminhei até a borda do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">abismo. Minha intenção era tirar algumas fotos inesquecíveis,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mas quase acabei caindo no esquecimento. Escorregando na</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">borda do penhasco, me vi pendurado em uma rocha, com os</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pés flutuando no vazio. A pedra lisa não garantia apoio</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">suficiente para me impulsionar de volta. Um movimento mal</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">calculado me faria abraçar aquela selva para sempre.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Percebendo o perigo, o finlandês correu em meu socorro e me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">puxou de volta à vida.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Por duas vezes aquela montanha havia me alertado. Um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">passo em falso e tudo acaba. Um segundo e todo o tempo já</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não importa mais. Ergui meus olhos e vi novamente a floresta.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Seu ar selvagem havia se multiplicado por mil. Aquela selva,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">aquela montanha, aquela terra das águas, tudo se tornara ainda</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">maior. A consciência da morte expande a mente, valoriza cada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">passo e intensifica cada segundo. Essa estranha adrenalina</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">injetada em momentos extremos é o que muitos buscam para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">despertar. Mas seria necessário caminhar até o umbral da morte</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para isso?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Meus olhos fitavam a grande selva da Guiana. Estava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">assustado, não pelo fato de quase ter caído no precipício, mas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pela mórbida ideia que se passou em minha mente naqueles</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">poucos segundos. “E se eu me soltar? Descobrirei o grande</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">segredo da morte... Mas e se não houver segredo algum? E se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não houver nada após a vida? Não fará diferença, porque estarei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">morto. Mas se eu encontrasse o paraíso?”. Meus pensamentos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">foram interrompidos pela mão que me libertou dessas ideias</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">absurdas. Em segurança, com os pés fincados sobre a rocha,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">meus olhos continuaram a namorar a grande selva da Guiana.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Em algum ponto daquele primitivo horizonte, o religioso</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Jim Jones prometeu o paraíso aos seus seguidores. Quase mil</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fanáticos se suicidaram ao mesmo tempo, acreditando que a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">morte os conduziria a uma vida melhor. Que passagem macabra</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para um destino incerto. Em algum lugar daquela selva estava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">enterrada a grande dúvida do homem: o que há além do que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pode ser visto? O que há? Respirei a dúvida e enchi os pulmões</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de esperança. Dei as costas à questão. Ainda desejava me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">confundir por muitos anos, nesta doce incerteza chamada vida.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-49100956911059520282009-04-24T19:25:00.004-03:002009-04-30T16:00:59.237-03:003º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn1XcIS-KI/AAAAAAAAAHg/dr7qy0v2Xu4/s1600-h/03.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn1XcIS-KI/AAAAAAAAAHg/dr7qy0v2Xu4/s320/03.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330561417006479522" border="0" /></a><br /><br />(...)<br />A felicidade com que elas se dirigiam ao mar era algo<br />comovente, que superava até a emoção do Caribe. Ah! O Caribe!<br />O mar azul, de um azul que se funde com o azul do céu. Aquilo<br />tudo me fazia crer que o azul era a cor do paraíso. Mergulhei<br />levantando a areia fina do fundo. A água translúcida permitia<br />que se vissem os peixinhos nadando, mas deixei de prestar<br />atenção neles para fixar meu olhar naquelas senhoras no mar.<br />Jogavam água uma na outra, como crianças felizes. Sorriam. O<br />sol iluminando a cena. É possível ser sempre feliz assim?<br />Flutuando no Caribe, com os olhos voltados para o céu, eu<br />acreditava que sim.<br />Íamos à praia pela manhã, levando sanduíches que<br />comíamos sorrindo na beira do mar. Até que um dia,<br />caminhando pela praia em direção a Pigeon’s Point, Sheila<br />perdeu o sorriso. Perguntei o que havia acontecido. “Passei<br />minha lua-de-mel ali”, ela apontou para um hotel, cuja varanda<br />se apoiava na areia da praia. Imaginei os momentos de uma<br />vida ao lado de alguém que partiu, mas cujas pegadas de amor<br />não foram apagadas.<br />Mesmo olhando para um hotel em que minhas lembranças<br />nunca haviam se hospedado, a voz do meu amigo Felipe ecoava<br />por aquelas paredes: “Vamos viajar juntos, já adiamos demais”.<br />Dois dias depois, ele sofreu um acidente fatal. Havíamos adiado<br />demais. As ondas varriam minhas pegadas, mas eu sabia que<br />havia caminhado por aquela praia. Talvez as pegadas possam<br />ser apagadas, mas os passos permanecem no coração.<br />Deixamos o hotel das lembranças para trás, buscando novos<br />lugares para hospedar novas alegrias, até que os dias das nossas<br />pegadas nas areias brancas se passaram. Sheila e Ver voltaram<br />para Trinidad. Ouvi de Ver na despedida: “Eu tinha dois filhos<br />adotivos...”. Passando a mão em minha cabeça, ela completou:<br />“Agora tenho três”.<br />(...)Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-19645288851642418742009-04-24T19:07:00.006-03:002009-04-30T16:03:42.265-03:004º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn1qGTDpcI/AAAAAAAAAHo/BCYDnUZqSBE/s1600-h/04.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn1qGTDpcI/AAAAAAAAAHo/BCYDnUZqSBE/s320/04.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330561737563547074" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);"><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);">...)</span></span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ela estava toda de branco. Vestia uma blusinha com uma</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estrelinha azul estampada em meio aos seus delicados seios. A</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">blusinha era minúscula e deixava à mostra o umbiguinho</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sensual dançando em sua cinturinha. Sua calça de lycra agarrada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ao corpo mostrava o delicioso contorno de suas coxas. Apesar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de vestida, parecia nua. Ou seriam os meus olhos que a despiam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">naquele momento? Ela tirou um par de brincos da bolsa.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Dezenas de pequeninos corações azuis pendiam em cacho.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Talvez eles representassem o número de corações que ela já</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">havia conquistado. Uma coleção de amores falsos.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Olhando-se no espelho, ela tentou aninhar seus amores de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">bijuteria entre os cabelos escuros como a noite selvagem,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">cabelos lisos e macios como os lençóis em que ela se deitava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para fazer amor. Mas acabou desistindo de colocar os brincos.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Talvez quisesse uma joia de verdade. “Guarda pra mim?”, ela</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sorriu, me entregando os corações. Guardei em meu bolso,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">como se fosse um tesouro. E sem dizer mais nenhuma palavra,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ela segurou a minha mão e começou a andar colada a mim.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Simples assim, como namorados. (...)<br />Ela sussurrou em meu ouvido: "Vamos ao motel?"<br /></span><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Eu sabia que ela era uma profissional do amor. Sabia desde</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a primeira vez que a vi. Ela ainda não havia estipulado um preço,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma quantia para que eu me tornasse mais um coração em seu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">brinco azul. Não respondi. Ela ficou calada por mais alguns</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">instantes, tentando encontrar palavras que nunca vieram. Seu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rosto queria falar, mas foi calado pelo seu corpo. “Vamos ao</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">motel?”, ela repetiu baixando os olhos, fingindo estar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">envergonhada. Continuei calado ao seu lado. Em um segundo,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ela se distraiu e largou o meu braço. Quando ela se voltou para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mim, eu já não estava mais lá. Fugi. Fugi porque não queria me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tornar mais um coração falso em meio a tantos outros. E fugi</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rapidamente, porque se não o fizesse, meu corpo me trairia.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">A última noite de festa foi a mais solitária de todas...</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);"> De que adianta</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">beijar todas as bocas do mundo, se nenhuma delas fala a língua</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">do amor? Senti saudades da minha ex-noiva, que estava do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">outro lado do mundo. Na verdade, acho que senti apenas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">saudades de ter alguém para amar. (...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">A grande apoteose da ilusão chegava ao fim. Milhares de pessoas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">seguiram para o porto. Era hora de zarpar da ilha da fantasia e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">voltar ao mundo real. Três dias e três noites haviam se passado,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sem que um único segundo fosse desperdiçado. Nas largas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">águas do Amazonas, os barcos seguiam exaustos em uma triste</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fila indiana...</span><span style="color: rgb(255, 255, 255);"> Caminhei pelo convés, segurando um par de brincos de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">corações azuis. Caminhei em direção a uma garota de cara</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">inocente e corpo safado, encostada na amurada do barco. Ela</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não quis pegar os brincos, mergulhando os olhos nas águas do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">grande rio, que sonhava em ser mar. Existe pecado na</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Amazônia? O corpo não comete pecado, o desejo não o faz</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nascer, o sexo não o alimenta, o gozo não o sacia. O pecado</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não está no corpo nem no que se faz com ele. O pecado está em</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">enganar a alma e fazer acreditar que há amor, onde não há.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-31100315060463901732009-04-24T18:58:00.003-03:002009-04-30T16:05:02.483-03:005º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2TtbErMI/AAAAAAAAAHw/xdtNwv5x4XU/s1600-h/05.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2TtbErMI/AAAAAAAAAHw/xdtNwv5x4XU/s320/05.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330562452440788162" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ele já havia procurado ouro em todos os cantos da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Amazônia. Brigou com índios e militares de três nações. Viu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">gente morrer sem fazer falta a ninguém. Passou fome sem saber</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que era fome e passou sede sem saber que era sede. Fome e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sede eram para os outros, não para os garimpeiros da selva</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">amazônica, porque o único alimento e a única água para estes</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">homens era o ouro. Mas isso era passado para ele. A sua</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">calejada mão pendia para fora da rede, balançando em tediosos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">movimentos. O mesmo movimento da mão de um garimpeiro</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">em busca de ouro. Ainda que tremesse, sua mão continuava a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">obedecer a um sonho que já havia morrido.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Encontrou muito ouro?”, disparei a inevitável pergunta.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">A resposta veio entre um balanço e outro de sua surrada rede:</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“O suficiente para não desistir... e não o bastante para parar de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">procurar”. O velho espichou a cabeça para fora da rede e olhou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para mim: “A vida é assim, meu jovem... nunca é o bastante</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para parar de procurar”. No fundo de seus olhos vazios, pensei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ter enxergado o brilho de duas grandes pepitas de ouro. Talvez</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">no final, ele tenha descoberto que a sua própria busca era o seu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tesouro. Um tesouro chamado “razão de viver”. O garimpeiro</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sorriu um sorriso dourado, e creio que todo o ouro que ele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">encontrou em sua vida estava guardado naquele sorriso.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-41616328462382831222009-04-24T18:49:00.002-03:002009-04-30T16:05:59.601-03:006º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2gEt0dcI/AAAAAAAAAH4/jr_Bb8AtTfk/s1600-h/06.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2gEt0dcI/AAAAAAAAAH4/jr_Bb8AtTfk/s320/06.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330562664851862978" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Cortando aquela estrada vicinal, o potente farol iluminou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma placa que indicava: “Rolim de Moura”. E foi em um posto</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">dessa cidade que passei a primeira noite daquela carona. Tirei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">do bolso um papel com um número de telefone. “Se vier para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Rolim, me liga”, um rapaz que conheci no rio Madeira havia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">me convidado. Era um bom rapaz, cujo grande sonho era</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">conhecer o Pantanal. Passei grande parte da viagem de barco</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tentando convencê-lo a cair na estrada comigo. Seus olhos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">brilhavam com a possibilidade, mas logo se apagavam: “Mas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não tenho grana para ir”. E eu dizia que com certeza tinha menos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ainda. “Mas tenho que voltar pra casa”, ele desconversava. E</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">eu dizia que também voltaria depois de conhecer a Chapada, o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Pantanal e muitos outros lugares. “Mas...”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Mas” é uma palavra terrível demais para quem tem um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sonho. Olhei para o número em minhas mãos, mas não liguei.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ele não iria comigo, porque o “mas” é uma palavra difícil</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">demais de se deixar para trás. Armei minha rede debaixo da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">carreta, entre dois de seus nove eixos. Dormi feliz, porque o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“mas” não atormentava mais os meus sonhos.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-609823886230003512009-04-24T18:45:00.002-03:002009-04-30T16:06:49.094-03:007º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2vGi7XLI/AAAAAAAAAIA/1bml-qIZqKY/s1600-h/07.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2vGi7XLI/AAAAAAAAAIA/1bml-qIZqKY/s320/07.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330562923041086642" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Um soldado apontou o fuzil para a estrada e ordenou que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">parássemos. Depois de verificar que não éramos inimigos, ele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nos deixou passar. Finalmente chegamos ao imponente Forte</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Real Príncipe da Beira. Conversamos com o comandante do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quartel e ele permitiu que entrássemos na antiga fortaleza. Um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">soldado pegou uma pesada chave de ferro e nos acompanhou.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Seu fuzil pendia no ombro como uma extensão de seu próprio</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">braço. Deixando o quartel do presente, a chave girou e abriu o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">portão do passado. Ao penetrarmos pelo portal de pedra, duas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">enormes corujas brancas piaram, como se estivessem</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">lamentando algo muito ruim. As maciças muralhas de dez</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">metros de altura intimidavam o medo. Aquela fortaleza tinha a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">forma de uma estrela de quatro pontas. Uma estrela cravejada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">no coração da selva.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O coturno do soldado golpeava o chão de pedra, fazendo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ecoar os passos do passado. Ele abriu um alçapão no centro da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fortaleza, afirmando que ninguém sabia para onde ele levava.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O poço desaparecia na escuridão. Para onde levaria? Ninguém</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ousou descobrir. Seu segredo estava velado pelos antigos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fantasmas que a escavaram no coração do forte. Marchamos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">até o baluarte que se projetava em direção ao rio Guaporé. Olhei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para os silenciosos canhões enferrujados que apontavam para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a Bolívia. O transporte daquelas armas desde o Velho Mundo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">até aquele distante canto do Brasil demorou cinco anos,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">cruzando o oceano Atlântico e subindo penosamente os rios</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Amazonas e Madeira. Olhei as poderosas muralhas de pedra.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Toda aquela fortaleza havia sido construída pelo medo de que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">um dia os inimigos viessem a atacar. Mas aquelas pedras</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">permaneceram em silêncio, esperando por séculos. Nada.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Aqueles canhões apontavam para um inimigo que nunca veio.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Para que o esforço da construção não fosse em vão, a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">orgulhosa fortaleza foi convertida em vergonhosa prisão. As</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">grossas muralhas que haviam sido projetadas para proteger se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">transformaram em muros para prender e torturar a liberdade.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Quão parecido com aquela fortaleza é o homem: temendo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">inimigos inexistentes, construindo muralhas para se defender</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">e acabando prisioneiro de seu próprio medo. No fim, a velha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fortaleza sucumbiu. Não é mais forte. Não é mais prisão. É</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apenas uma testemunha silenciosa, de algo sem explicação.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-13788610317996427912009-04-24T18:39:00.004-03:002009-04-30T16:08:45.436-03:008º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2_XKVrtI/AAAAAAAAAII/U6pHPv5LdmM/s1600-h/08.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn2_XKVrtI/AAAAAAAAAII/U6pHPv5LdmM/s320/08.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330563202379263698" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">E no alto da montanha, vi alguém acenando para mim.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Quem será?”, as palavras fugiram da minha boca. Apertei a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vista. O braço continuava a dançar no ar. Olhei para os lados,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não havia ninguém. Com certeza, aquela saudação era para mim.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ergui o braço e comecei a agitá-lo alegremente no ar, com toda</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a minha força. Fiquei feliz. Não estava sozinho!</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Comecei a escalar o monte com os olhos fixos naquele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">aceno. Escorreguei em uma pedra solta e caí. Quando levantei,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a saudação não estava mais lá. Talvez a pessoa que acenava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tenha percebido que seria um perigo me distrair ali. Era preciso</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">manter os olhos no caminho, para que eu não me perdesse no</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">abismo. Subi ansiosamente a montanha, até que finalmente</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">cheguei ao ponto mais alto do parque da Chapada dos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Guimarães.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Meus olhos correram em todas as direções. Não havia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ninguém. Um fino capim cobria todo o topo, e o vento fazia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com que cada haste agitasse suas folhas, como milhares de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">acenos me saudando. Mas onde estava o aceno que vi antes?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Corri pelo capinzal. Corri tentando entender. Corri apenas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">porque queria encontrar alguém. Então, enquanto corria, ouvi</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma voz trazida pelo vento. Caí de joelhos e chorei, porque</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">aquela era a voz do meu amigo que eu não conseguia mais ver.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Gritei seu nome. O vento soprou, carregando o meu chamado.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Uma sincera amizade nos ensina a conversar sem palavras.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Em um momento de alegria, um sorriso amigo multiplica a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">felicidade. Em um momento de tristeza, uma mão amiga enxuga</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a lágrima. Quando aprendemos a conversar sem palavras,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">passamos a entender tudo o que o nosso amigo quer dizer,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apenas com um olhar. E depois que os olhares aprendem a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">conversar, passamos a enxergar a verdadeira amizade. A partir</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de então, podemos até fechar os olhos e sentir nosso amigo,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sem que ele esteja ao nosso lado, porque aprendemos que ele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">já é parte de nós. E é assim que os amigos se tornam irmãos de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">alma.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Deitei no capim e olhei para o céu azul. Minhas lágrimas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pararam de cair e meus olhos pararam de procurar, porque eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não estava mais sozinho. Comecei a rir, a rir como eu sempre</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ria ao lado do meu amigo. Eu não o via, assim como não via o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vento, mas sabia que ele estava lá. Ele nunca havia me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">abandonado. Ele havia escutado o meu “sim”. E nós havíamos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">chegado até ali... Juntos!</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-67322763750070577412009-04-24T18:25:00.004-03:002009-04-30T16:09:42.192-03:009º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn3ZmzSzDI/AAAAAAAAAIQ/k-x3UJSS9fU/s1600-h/09.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn3ZmzSzDI/AAAAAAAAAIQ/k-x3UJSS9fU/s320/09.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330563653254171698" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ele nos falou sobre um lugar conhecido como o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Portão do Inferno: “Nesse lugar existe um precipício que atrai</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a morte. Várias pessoas já se suicidaram nesse abismo”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Como?”, perguntei. “Ninguém sabe ao certo. Dizem que as</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pessoas caminham até a beira do precipício, como se estivessem</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">em transe, depois tiram os sapatos e saltam”. Magno falava com</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">os olhos fixos na fogueira (...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Vamos lá”, eu queria descobrir a resposta. “Quando?”,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Clara perguntou. “Agora”, César estava animado. “Agora”,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">concordamos. Magno checou o relógio e disse com um sorriso</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">enigmático: “Acho que chegaremos lá por volta da meia-noite”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Um brinde ao Portão do Inferno!”, uma garrafa de vodka</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">misturada com Coca passou de boca em boca. Beijei o gargalo,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mas não bebi. Enganei o diabo, porque não queria beber em</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">solo sagrado. Caminhamos pela rodovia banhada pelo luar. As</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rochas que ladeavam a estrada pareciam sombras macabras de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">um caminho maldito.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Vamos tirar os nossos sapatos na beira do precipício!”,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">alguém propôs. Concordamos gargalhando, como se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estivéssemos possuídos por um inexplicável desejo de provar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a nossa coragem. Ou seria tolice? A garrafa continuava a dançar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">entre os vultos que caminhavam naquela noite. Alguns</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quilômetros depois, avistamos a placa que apontava para o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nosso destino: “Portão do Inferno a 200 metros”(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Sentamos em uma rocha e começamos a falar sobre coisas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estranhas. “Quando Clara e eu estávamos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">procurando um lugar para dormir no Peru, alguém sugeriu que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ficássemos em uma casa abandonada no meio de um bosque.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Só que coisas estranhas aconteciam por lá. Nossas coisas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mudavam de lugar durante a noite. Outras surgiam e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">desapareciam. Não ficamos ali para descobrir o que causava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">aquilo”(...) César se lembrou de mais uma história: “Na época do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">terrorismo na Colômbia, um jovem de família muito pobre foi</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">recrutado para executar um atentado. Ele ficava triste ao ver a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sua mãe se lamentando diante da velha geladeira quebrada. O</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rapaz decidiu comprar uma nova para ela e por isso aceitou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">colocar uma bomba em uma rua de Bogotá. A bomba explodiu,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">e ele pegou o dinheiro do atentado. Voltava feliz para casa,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">imaginando a felicidade da mãe. Quando chegou, sua família</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">toda estava chorando. Sua mãe havia morrido naquele dia,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vítima de uma bomba”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Quando César terminou de contar essa história, ele se virou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para Clara, mas ela não estava mais ao seu lado. “Clara?”</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Estávamos tão entretidos com a história que não havíamos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">percebido que ela havia se levantado. “CLARA?” Nossos olhos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a buscaram na tênue luz do luar. “CLARA!” Ela estava na beira</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">do precipício, olhando fixamente para baixo. César correu e a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">puxou. “Quê?”, Clara perguntou desnorteada, como se estivesse</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">saindo de um transe.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Naquela noite, ninguém tirou os sapatos na beira do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">precipício. Demos as costas ao Portão do Inferno, sem sequer</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ter ousado espiar por ele. Voltamos em silêncio, respeitando o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que não podíamos compreender.</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-48983655961852042062009-04-24T18:22:00.002-03:002009-04-30T16:10:56.067-03:0010º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn3r_cHb0I/AAAAAAAAAIY/Fv6aU9eNEjg/s1600-h/10.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn3r_cHb0I/AAAAAAAAAIY/Fv6aU9eNEjg/s320/10.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330563969105489730" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Tateamos nosso caminho até o Paredão do Eco. Gritávamos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">na escuridão, ouvindo nossas próprias vozes repetidas pelas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rochas. Estávamos nos divertindo com isso, até o momento em</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que ouvimos um som que não partiu de nenhum de nós. Parecia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">o rugido de uma fera. Ficamos em silêncio, não ouvimos mais</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nada. Deitamos na rocha nua, olhando para as estrelas no céu.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">E sobre travesseiros de pedra, falamos sobre coisas absurdas,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">porque estar ali já era absurdo. Estávamos vivendo o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">impossível.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Longe das falsas luzes dos homens, as estrelas podiam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">brilhar de verdade. Ou não? E pensar que muitas daquelas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estrelas sequer existiam. Depois que uma estrela morre, a sua</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">luz emitida em vida continua viajando pelo espaço, cruzando</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">milhares de anos-luz até chegar a um planetinha minúsculo do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sistema solar. Até quando as luzes daquelas estrelas mortas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">viajariam pelo vácuo? Talvez essa fosse a ilusão da eternidade.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Olha! Uma estrela cadente”, eu apontei. “E outra!” Quando</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">era criança, acreditava que tinha o direito de fazer um pedido a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma estrela cadente. E muitas riscavam o céu naquele instante.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Deitado na dura rocha, eu sabia que eram apenas meteoritos se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">incendiando ao entrar na atmosfera. Mas, naquela noite, eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">queria acreditar que as estrelas cadentes eram os sonhos do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">céu caindo na terra. Adormecemos, cada qual em busca de suas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">próprias estrelas cadentes.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-74322830145786638152009-04-24T18:16:00.004-03:002009-04-30T16:11:46.845-03:0011º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn36JlHEpI/AAAAAAAAAIg/B6g0bXL8DNQ/s1600-h/11.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn36JlHEpI/AAAAAAAAAIg/B6g0bXL8DNQ/s320/11.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330564212345737874" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Do outro lado do rio ficava o Mato Grosso do Sul. Fiquei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com vontade de ir até lá, mas do outro lado não havia mais</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estrada. O chão acabou para mim. Era hora de voltar. Girei o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">guidão e recomecei a pedalar. A placa indicava: “Poconé – 149</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">km”. E foi uma longa viagem de volta...</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Não fiquei muito tempo no Pantanal. Por mais belo que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">aquele lugar fosse, por mais emoções que tenha vivido entre</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">os jacarés, por mais que tenha enfeitado a minha alma com</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">revoadas de penas e bicos de todas as cores, eu sentia vontade</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de voltar para casa. Peguei carona na caçamba de um velho</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">caminhão e vi o sol se pôr na estrada. E quando me dei conta,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">já estava de volta. De volta à Chapada dos Guimarães. Por que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">me sentia em casa naquele lugar?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Dividi as paisagens do Pantanal com os meus amigos da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Chapada. Camila e seu filho Isac ainda brincavam por lá,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">enquanto César e Clara vendiam seus badulaques ao lado do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">riacho, que havia sido testemunha de um ato heróico naquele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">dia. Um homem havia tombado com a cadeira de rodas dentro</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">da água, e Clara ajudou a salvá-lo. Apesar do riacho ser raso, a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">cabeça dele havia ficado debaixo d’água. Foi Clara quem puxou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">o seu rosto para fora, até que outras pessoas chegassem para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ajudar a carregá-lo para fora de perigo. Clara ficou encabulada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com os agradecimentos fervorosos do homem que salvara.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Quando cheguei, ele já estava sentado em sua cadeira de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rodas, todo molhado e sorridente ao lado de sua heroína. Ele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">realmente era um homem grato por estar vivo, porque mesmo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estando em uma cadeira de rodas, ele nunca deixou de procurar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">novos horizontes. Nem ele, nem os seus companheiros daquela</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">excursão em cadeira de rodas, incluindo um homem que só</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">conseguia mexer os olhos. Mas tal era a expressão de seu olhar,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que ele conseguia sorrir sem mover os lábios.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Havia um outro rapaz que não precisava de cadeira de rodas,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mas que acompanhava o grupo. “As pessoas pensam que eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estou com a minha mulher por pena”. Ela teve as pernas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">amputadas em um acidente de carro em que ele estava ao</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">volante. “E eu cheguei a pensar que era por culpa”, ele baixou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">os olhos. Sua esposa chegou sorridente com uma garrafa de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">refrigerante e copos de plástico no colo. Ele beijou a fronte da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mulher e concluiu: “Mas depois de alguns anos, eu descobri</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que era pelo mesmo motivo de sempre... Por amor”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-33836424549353367002009-04-24T18:07:00.003-03:002009-04-30T16:12:43.872-03:0012º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn4INEY3GI/AAAAAAAAAIo/hUyzr_rKsso/s1600-h/12.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn4INEY3GI/AAAAAAAAAIo/hUyzr_rKsso/s320/12.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330564453800402018" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Nas ruas de Barretos, conheci uma legião invisível de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pessoas que vagam às margens da visibilidade social. Havia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">em meio a este povo sem face, pessoas que não se deixavam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">desaparecer por completo. Eram os vendedores de coisas que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ninguém queria. Todos depositavam uma esperança exagerada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">na festa de Barretos, que fatalmente acabava em decepção. Um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">desses vendedores carregava vários chapéus de caubói feitos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de lona de caminhão. O maranhense acabou batendo papo com</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ele e acabou descolando um chapéu estragado para mim. E,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">assim, com um chapéu de lona remendado na cabeça, eu entrei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">oficialmente para a horda de caubóis sem cavalo. Caubóis sem</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nada além do duro chão em que pisam e são pisados.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Já na minha primeira noite em Barretos, fui até a arena do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">rodeio. Era terça-feira e a entrada era gratuita naquele dia. A</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">grande festa mesmo acontecia nos finais de semana, quando</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">os ricos fazendeiros iam acompanhados de suas belas mulheres</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para ver os campeões. A arquibancada ficava quase vazia nos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">outros dias, porque ninguém queria ver as eliminatórias.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ninguém quer ver nem de graça os eliminados, os perdedores.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Todos pagam para ver a grande final, quando apenas os</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vencedores ficam de pé no centro da grande arena. Este é o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mundo que aclama os vencedores e despreza os perdedores.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Naquela noite eu estava entre os perdedores, vendo os</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">touros pulando na arena, jogando os caubóis no chão. O locutor</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">berrava: “O CHÃO É O LIMITE”. E foram muitos os que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">chegaram ao limite naquela noite, tanto na arena quanto fora</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">dela. Catadores de latinhas garimpavam os restos dos que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">podiam festejar. Vi dois deles brigando por uma mísera latinha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">jogada na arquibancada. Eles haviam chegado ao limite. Os</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">touros pararam de pular na arena, o locutor parou de berrar, as</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">latinhas vazias sumiram das arquibancadas, que de quase vazias</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">se esvaziaram por completo. Fiquei por alguns minutos naquela</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">arena de 35 mil assentos calados. Não havia aplausos para os</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">perdedores.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-28727586242637709372009-04-24T18:05:00.003-03:002009-04-30T16:14:12.014-03:0013º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn4aBho76I/AAAAAAAAAIw/QQuMCEwHgGQ/s1600-h/13.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn4aBho76I/AAAAAAAAAIw/QQuMCEwHgGQ/s320/13.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330564759939510178" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Sentamos no bar do terminal. O famoso rosto do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">revolucionário Che Guevara estava pendurado na parede</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">engordurada. “Os poderosos podem matar uma, duas ou até</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">três rosas, mas nunca poderão deter a primavera” (assinado)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Che Guevara. “Bonita essa frase do Guevara”, comentei. O</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">velho dono do bar balançou a cabeça concordando. “Eu não</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vou mais para Barretos”, Rafael olhava para as suas rosas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">largadas em cima do balcão. E o nosso grande plano? E a grande</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">final do rodeio? Ano que vem. “Ano que vem eu vou”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Compreendi que a palavra “ano que vem” era muito preciosa</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para Rafael, que colecionava razões para continuar lutando,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para continuar vivendo. Ano que vem.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O velho dono do bar foi embora e foi substituído no balcão</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pelo seu jovem filho. Eu não sabia o que dizer para Rafael,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">porque normalmente era ele quem falava. Olhei para o jovem</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">cabeludo atrás do balcão e tentei quebrar o silêncio: “Bonita</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">essa frase do Guevara”. O jovem sorriu e disse que aquela frase</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não era do Guevara. Era de outra pessoa que ele não se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">recordava o nome. “Alguém teve a brilhante ideia de colocar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma frase bonita junto com o rosto do Guevara, só pra poder</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vender essa coisa pendurada aí”, ele explicou. Quem será que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">havia escrito aquela frase bonita? Olhei para as rosas de Rafael</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">e me dei conta de quão anônimas elas eram. Ninguém se importa</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com as suas rosas. Elas poderiam morrer, porque mesmo assim</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a primavera nunca deixaria de chegar. Saí do bar, afirmando:</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Ainda assim é uma frase bonita”.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Anos depois, ainda não sei se aquela frase era realmente</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de Guevara. Muitos acreditam que sim. Mas se essa frase tivesse</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sido dita por um camponês sem nome? Perderia a sua beleza?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Quem se importa com as anônimas rosas de Rafael?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Caminhamos juntos até a plataforma. Eu assistiria à grande final</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">do rodeio de Barretos. Iria sozinho, não para vender rosas, mas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apenas porque eu não precisava esperar pelo ano que vem.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Rafael me deu o abraço mais apertado que seu braço enfaixado</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">permitiu. O ônibus partiu. E foi assim que eu o vi pela última</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vez, caminhando sozinho pela plataforma vazia, abraçado às</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">suas rosas, que nunca morriam.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-91370349085711947792009-04-24T17:57:00.004-03:002009-04-30T16:16:11.056-03:0014º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn4470l4VI/AAAAAAAAAI4/dy8OBPlfjHs/s1600-h/14.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn4470l4VI/AAAAAAAAAI4/dy8OBPlfjHs/s320/14.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330565290984333650" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Cada galho balançando ao vento parecia me observar. Cada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ruído parecia sussurrar algo em uma língua estranha. Mas o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que mais me incomodava era saber que toda aquela floresta</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que me cercava havia nascido apenas para morrer. Cada tronco</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que subia em direção ao céu acabaria derrubado, cortado,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">retalhado e triturado até virar celulose e finalmente papel. O</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mesmo papel que agora conta a história de uma floresta</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">condenada desde o primeiro dia de vida. Será que esse também</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">é o destino dos seres humanos? Nascer apenas para morrer?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Não fazia sentido, mas aquela floresta havia nascido para isso.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Depois de alguns quilômetros floresta adentro, avistei a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">clareira. Senti um arrepio ao perceber que as folhas em que eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pisara da última vez haviam sumido. Uma larga faixa de terra</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">nua levava ao poço. Quem teria passado por ali e varrido as</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">folhas mortas do caminho? Ouvi o lamento do poço, aquele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estranho zumbido me chamando. “Absurdo”, tentei me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">encorajar. Não havia nada a temer. Segui em frente até parar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">na fronteira entre a floresta e a clareira. Lá estava o poço e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">suas centenas de almas abandonadas. Lentamente, dei as costas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ao antigo cemitério e abri meus braços em cruz, em direção à</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">floresta. Fechei os olhos.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Senti uma estranha presença atrás de mim. Um calafrio</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">correu pela espinha, paralisando meu corpo. Os lamentos do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fosso pareciam se intensificar. Escutei vozes incompreensíveis,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sussurros e choros distantes. Minhas pálpebras se fechavam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com mais força. Apesar dos olhos cerrados, eu conseguia “ver”</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tudo o que se passava às minhas costas. Estranhos vultos se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">agarravam às paredes do poço, arrastando-se para fora dele.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Criaturas sem olhos nem pele saíam da escuridão, cambaleando</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">atrás de mim. Meus músculos se contraíam. Suor frio escorria</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pelos poros da pele. As garras se aproximavam, lançando unhas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apodrecidas sobre minhas costas, até que fui agarrado</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">violentamente pelo medo. Senti como se os músculos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">descolassem dos ossos, como se alguém quisesse roubar a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">minha pele. Fui arrastado para dentro do poço, onde caí por</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">um longo tempo até chegar ao fundo. Gritei. E foi assim que o</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">medo passou por mim. Silêncio. Abri os olhos. Na minha frente,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a floresta. Atrás, o poço. E só.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O medo de ser esquecido, de morrer e não deixar saudades</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">era grande demais. Era esse o meu medo: viver uma vida inteira</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apenas para ser esquecido depois, para sempre. Não, não se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pode morrer assim. Não se pode deixar que um trator passe por</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">cima de nossas existências e apague tudo como se nunca</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tivéssemos vivido. Não, eu me recusava a isso. Eu me recusava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a viver em vão.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-21516786619849691962009-04-24T17:52:00.003-03:002009-04-30T16:17:36.926-03:0015º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn5RMnyceI/AAAAAAAAAJA/Urmgt5M7sPs/s1600-h/15.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn5RMnyceI/AAAAAAAAAJA/Urmgt5M7sPs/s320/15.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330565707810894306" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Ajoelhei e rezei. Não pedi proteção, não pedi perdão, não</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pedi nada. Se merecesse proteção, estaria protegido. Se meus</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pecados pudessem ser perdoados, seria perdoado. Se merecesse</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">receber algo, receberia. Bastava acreditar em Deus. Mas e se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Deus não existisse? Essa era uma dúvida que eu tentaria apagar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com meus passos. Tudo o que fiz, ajoelhado diante daquela</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">igreja, foi agradecer. Agradecer pela chance de pelo menos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tentar acreditar em meu destino.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">O dia abandonou a praça. Sentei em um banco, sem saber</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ao certo o que fazer. Um garotinho passou de mãos dadas com</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">a mãe e só largava dela para levar um punhado de pipoca doce</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">à boca. Lembrei-me dos dias em que era uma criança, e minha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mãe me levava à igreja. Depois da missa, ela costumava comprar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma pipoca como aquela para mim. Eu queria aquela pipoca</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de novo, queria voltar àquele tempo em que eu acreditava. O</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">garotinho parou, disse algo para a mãe e veio correndo em</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">minha direção. “Você quer pipoca, moço?”, o garotinho</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estendeu o pacote. “Não, obrigado”, eu sorri. O garotinho sorriu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">de volta, deu as costas e começou a andar. Depois de alguns</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">passos, ele voltou e disse: “Acho que o senhor tá com vergonha,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não é? Pode pegar, minha mãe dá outro pra mim”. O garotinho</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">deixou o pacote no meu colo e saiu correndo. E, de mãos dadas</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">com a mãe, dobrou a esquina e sumiu. Para mim, aquele foi um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pequeno milagre, como tantos outros que acontecem na vida e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sequer são percebidos.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-53998030902802108012009-04-24T17:50:00.002-03:002009-04-30T16:18:20.413-03:0016º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn5cjOz9jI/AAAAAAAAAJI/SGcSfQ2aR8Q/s1600-h/16.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn5cjOz9jI/AAAAAAAAAJI/SGcSfQ2aR8Q/s320/16.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330565902858712626" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Quando eu estava saindo da cidade, uma menininha olhou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para a minha mochila nas costas e perguntou: “Oi tio! Vai pra</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">onde?”. “Aparecida do Norte”, respondi sem vontade. “Por</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quê?”, ela queria saber. Muitas pessoas vão para Aparecida</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">em romaria, para rezar aos pés da santa padroeira. Respondi</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que estava em romaria. “A pé?”, seus olhos inquietos olharam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para os meus pés. Respondi que sim. “Por que não vai de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ônibus? Meu tio foi de ônibus porque ele disse que é muito</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">longe”, ela não entendia. Muitas pessoas vão a pé para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Aparecida para pagar uma promessa ou se redimir de algum</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pecado. Respondi que era necessário fazer algum sacrifício para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">173</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pagar promessa ou pedir perdão. “Por quê?”, a menina não</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">desistia. Tentei virar o jogo e perguntei: “Por que quer saber?”</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">A menina respondeu: “Porque quero aprender as coisas”. “Por</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quê?”, comecei a ser cruel. “Porque quando eu crescer, vou ter</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que saber de tudo”. Quantos anos aquela garotinha tinha?</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Queria que ela nunca crescesse, porque os adultos se</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">decepcionam quando aprendem que não há resposta para tudo.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">“Preciso ir”, abandonei a menina sem resposta. Queria fugir</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">antes que ela dissolvesse a certeza do meu caminho e me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">deixasse em dúvida sobre o sentido dos meus passos. Ela me</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">viu cambaleando, porque o meu estômago ainda doía. Acho</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que percebeu a minha dor. “Tio”, eu ouvi ela me chamar. Virei</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">o rosto contrariado. A menininha se aproximou dizendo: “Acho</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que Nossa Senhora é boazinha. Ela não vai ficar contente</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quando ver que o senhor tá com dor. Não importa o que o senhor</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fez de errado, se o senhor pediu desculpas e não vai fazer a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mesma coisa de novo, ela vai perdoar. Do mesmo jeito que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">minha mãe me perdoa quando eu faço coisa errada e fico</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">arrependida. E não entendo porque tem que sofrer pra agradar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Nossa Senhora... Minha mãe não gosta quando me machuco ou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fico chorando”. Por que será que as crianças crescem? Uma</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mulher gritou da porta de uma casa: “Eu já falei pra você não</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">ficar falando com estranhos, volta já pra cá!” A menina me deu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">um ‘tchauzinho’ e foi pedir desculpas para sua mãe, com um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">sorriso no rosto.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-54891444835351288492009-04-24T17:24:00.004-03:002009-04-30T16:19:19.429-03:0017º Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn5oYfYxPI/AAAAAAAAAJQ/cPVoATk6WRQ/s1600-h/17.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn5oYfYxPI/AAAAAAAAAJQ/cPVoATk6WRQ/s320/17.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330566106133873906" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Cheguei a um povoado e bati palmas diante de uma casa. Minha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">intenção era pedir para montar minha barraca debaixo de uma</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tapera que guardava ferramentas agrícolas. Uma mulher que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">morava na casa em frente perguntou o que eu queria. “Eu ia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pedir para acampar debaixo daquela cobertura”, respondi. “O</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pessoal dessa casa está viajando”, ela informou. Um senhor</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">surgiu por trás da mulher e perguntou: “Por que quer ficar aí?”</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Respondi que era um bom lugar para a minha barraca, porque</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estava coberto. “Uai, se quer um teto vem pra cá”, ele disse</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">como se fosse a coisa mais natural do mundo, chamar um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estranho para dormir em sua casa. E talvez devesse ser.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Tirei meus sapatos cheios de lama e entrei meio sem jeito.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Eu estava ensopado e molhei todo o chão. Seu Joaquim e dona</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Cídia me deram uma toalha e eu fui tomar banho. Como um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">simples banho quente pode ser tão bom assim? Mais tarde, eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">fui convidado para um jantar bem temperado. Expliquei que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estava com dor de barriga e então me deram algo leve para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">comer. Conversamos na cozinha protegida pela imagem do</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Sagrado Coração de Jesus. Estava realmente acolhido naquele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">lar.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">De noite, aquecido por um macio cobertor, ouvia a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">tempestade caindo impiedosamente sobre o telhado de amianto.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Olhei para a minha frágil e remendada barraca encostada no</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">canto do quarto. “Se eu estivesse dentro dela...”, tentei imaginar.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Poderia dizer que tive apenas sorte ao longo do caminho,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">encontrando sempre comida e abrigo nos momentos em que</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mais precisei. Mas não pensava dessa forma tão ingrata.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Durante a minha viagem pelo Caminho da Fé, eu não estava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">reencontrando apenas a minha fé em Deus. Eu estava</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">reencontrando algo muito mais difícil de encontrar nos dias de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">hoje: a fé nas pessoas. Afinal, se Deus se revelava para mim,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">era justamente por meio de seus anjos sem asas, que Ele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">colocava em meu caminho.</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-21416285116140258232009-04-24T17:15:00.002-03:002009-04-30T16:20:16.752-03:00Antepenúltimo passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn55cCwkkI/AAAAAAAAAJY/aTVzPBbXMXc/s1600-h/18.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 240px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn55cCwkkI/AAAAAAAAAJY/aTVzPBbXMXc/s320/18.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330566399145316930" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Cruzamos pastos, bosques e riachos pela serra da</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Mantiqueira, até chegarmos de noite na cidade de Santo Antônio</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">do Pinhal. Naquela cidade serrana cercada por araucárias, Adão</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">apertou a campainha da pousada Nippon. “Quer falar com</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">alguém?”, um japonesinho atendeu. Adão olhou para a criança</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">e respondeu com humor: “Ué? Não sei. Estou só apertando a</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">campainha pra ver se ninguém me atende”. A criança foi chamar</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">o pai. Olhando para aquele menininho ingênuo, lembrei-me de</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mim mesmo.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Paternalmente, mais uma vez Adão se propôs a pagar um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">quarto para mim, mas eu já havia conseguido um canto no amplo</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">salão de festas da pousada. Mesas e cadeiras brancas esperavam</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">para serem usadas em um canto do salão. A voz de Adão ecoou</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pelo vazio. Ele me convidava para jantar e não aceitaria um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não como resposta, porque naquela noite teríamos comida</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">japonesa. “Se não vier comigo, quem vai me dizer o que eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">estou comendo?”, ele brincou.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">No restaurante da pousada Nippon, pequenos arranjos</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">florais de ikebana descansavam sobre as mesas. Quadros</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">exibiam imagens da Terra do Sol Nascente. No cardápio havia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">yakisoba, tempurá, yakimeshi... Lembrei-me da saborosa</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">comida da minha mãe. Uma música enka começou a tocar. Era</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">uma antiga canção japonesa que falava sobre saudades da terra</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">natal. E aquela era a mesma música que eu escutava com o meu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">pai quando eu era criança. Ele sempre a tocava durante as</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">viagens de carro, em que eu me deitava no banco de trás e</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">olhava as estrelas passando pela janela. Eu reclamava: “Pai, eu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">não gosto dessa música”. E ele respondia: “Quando crescer vai</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">aprender a ter saudades. Daí vai gostar dessa música”. E naquele</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">restaurante, naquela noite, eu gostei.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-6794272894237205432009-04-24T17:10:00.003-03:002009-04-30T16:21:17.147-03:00Penúltimo Passo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn6HRAzuvI/AAAAAAAAAJg/8XyIh5v4mAc/s1600-h/19.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 255px; height: 320px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/Sfn6HRAzuvI/AAAAAAAAAJg/8XyIh5v4mAc/s320/19.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330566636702513906" border="0" /></a><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Continuei mais alguns dias na cidade das lembranças,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">caminhando pelas ruas do passado. Procurei pela casa da minha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">infância e descobri que ela havia sido demolida. Vi a fachada</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">da minha escola e ela estava diferente. Bati na casa do meu</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">primeiro amigo, mas ele havia se mudado para São Paulo. Minha</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">querida mãe e irmã também não moravam mais naquela cidade.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Perguntei sobre uma namorada da adolescência e me disseram</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">que ela estava feliz com outro. Fui ao clube em que eu havia</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">conseguido o meu primeiro emprego, mas ele havia fechado as</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">portas. Tudo estava diferente, mas eu não fiquei triste. Para</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">mim, a minha cidade não havia mudado, porque ela sempre</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">será a mesma em meu coração.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">Tudo parece passar nessa vida: lugares mudam,</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">relacionamentos terminam, pessoas morrem. Mas isso tudo só</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">passa mesmo para aqueles que não viveram de verdade... Porque</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">eu havia aprendido durante a minha viagem que quando um</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">momento é vivido com sincera emoção, certamente deixa uma</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">marca em nossa eternidade. E para aqueles que viveram e vivem</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">intensamente, basta fechar os olhos e sentir que tudo ainda está</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">lá, gravado dentro do coração, porque não se pode apagar uma</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">vida que realmente valeu a pena.</span><br /><span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-74049925310749217422009-04-24T16:59:00.003-03:002009-04-24T19:46:06.552-03:00Último Passo<span style="color: rgb(255, 255, 255);">(...)</span>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-53738297738685058342009-04-24T14:53:00.006-03:002009-04-24T15:34:38.365-03:00Comunidade no Orkut . . . Seja bem-vindo (a) !<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=56439898"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 256px; height: 256px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfIByrC-nQI/AAAAAAAAAG4/RrUrGqqo2Lk/s320/orkut_logo.png" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328323279193021698" border="0" /></a>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-67214128681482709462009-04-24T11:08:00.012-03:002010-01-18T22:18:25.326-02:00Para adquirir o livro, favor clicar na sua livraria preferida. Obrigado!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2707129&sid=93219710411128293357235632&k5=9C93D82&uid="><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 305px; height: 86px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfHH_VHBJDI/AAAAAAAAAF4/YP8LuEmmAms/s320/logoLivrariaCultura.png" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328259724968272946" border="0" /></a><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/produto.dll/detalhe?pro_id=2617572&ID=C9452DFC7D90108051C1C0328"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 305px; height: 88px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfHIIJuT15I/AAAAAAAAAGA/Mz77BF964xU/s320/logo_saraiva.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328259876530673554" border="0" /></a><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.siciliano.com.br/produto/produto.dll/detalhe?pro_id=2617572&ID=BD053ECF7D9020B0905250766&FIL_ID=102"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 307px; height: 108px;" src="http://1.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfHIdLBp3JI/AAAAAAAAAGI/V0ticvZg50U/s320/logo_siciliano+c%C3%B3pia.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328260237657496722" border="0" /></a><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.livropronto.com.br//livro/new_livro.asp?id_livro=231"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 305px; height: 89px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SgCX7c7DiLI/AAAAAAAAAKg/Djq6isUkTx0/s320/logo_livropronto.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5332429006438631602" border="0" /></a><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.ciadoslivros.com.br/book_details.asp?ProdId=KO3585"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 305px; height: 92px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SgCYGObtGNI/AAAAAAAAAKo/6OaZeFPCoCY/s320/C%C3%B3pia+de+logo_saraiva.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5332429191527602386" border="0" /></a><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://www.livrarialoyola.com.br/detalhes.asp?secao=livros&Menu=1&CodId=11&ProductId=256382"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 305px; height: 86px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfHIjBVirwI/AAAAAAAAAGQ/X5j1DK0Ksl0/s320/loyola+4.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328260338135772930" border="0" /></a>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1149222626888431514.post-1790219739709104592009-03-29T18:55:00.002-03:002009-04-26T16:21:52.450-03:00Jornal de Jundiai - 29/03/2009<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfDkIrTC1GI/AAAAAAAAAEo/FgxSiX6IXsM/s1600-h/Jornal+de+Jundia%C3%AD.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 216px; height: 400px;" src="http://3.bp.blogspot.com/_25k3Rsn-ric/SfDkIrTC1GI/AAAAAAAAAEo/FgxSiX6IXsM/s400/Jornal+de+Jundia%C3%AD.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5328009196891984994" border="0" /></a>Andréhttp://www.blogger.com/profile/15136230051458672166noreply@blogger.com0